Platão

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Ironicamente, o nome verdadeiro do homem que fundou a Filosofia como a entendemos hoje é um mistério. Especula-se que era Aristocles. Mas não temos certeza. O que sabemos é que ficou conhecido como Platão, ou “o amplo” – apelido que pode referir aos largos ombros que os anos de luta livre renderam ao filósofo, à diversidade de assuntos que abordou ou ao fato de ter tido uma testa imensa.

Seja como for, Platão de Atenas nasceu em 428 a.c. e morreu 81 anos depois, em 347. E foi ele que começou – ou, segundo alguns, complicou – tudo. Deixou como legado 26 diálogos que tratam das mais diversas questões – da utilidade social das artes à natureza da verdade, passando pela gênese dos nomes, as origens do amor e a até diferença entre oralidade e língua escrita.

Platão não aparece em seus próprios diálogos, que são protagonizados pelo também filósofo Sócrates (470-399 a.c.), de quem foi discípulo. Normalmente, assume-se que Sócrates serve como um espécie de porta-voz ou porte-parole do próprio Platão.

Alguns autores contemporâneos, entretanto, passaram a questionar a suposta equivalência entre as opiniões de Socrates e as de seu discípulo. Trata-se do chamado “novo Platonismo”, cujos principais integrantes – como Charles Kahn, Gerald Press e Dorrit Cohn, entre outros – vêm enfatizando o aspecto dramático dos diálogos a fim de propor leituras interessantes e provocativas dos mesmos.

O texto de A República pode ser um pouco confuso por causa de sua forma dialógica: às vezes, é fácil se esquecer quem está falando. Uma forma de negociar a confusão é lembrar que quem fala em primeira pessoa, o narrador, é Sócrates. As falas mais longas costumam ser dele, enquanto seus interlocutores costumam ter falas curtas nas quais concordam com ele.

PARA TERÇA-FEIRA

Para terça-feira, primeiro de Abril, leiamos o livro III de A República do início à seção que fala sobre ginástica. Para ser mais exato, leiamos até a passagem na qual Sócrates diz que não é a saúde corporal que melhora a alma, mas a alma que melhora a saúde do corpo. (Na numeração clássica dos textos de Platão, a passagem corresponde a [403e]. Ela fica um pouco depois da metade do livro III.)

Na leitura do livro III, algumas perguntas para levar em consideração seriam: Quando emite juízos sobre a arte, Socrates tem uma preocupação predominante? Sob qual perspectiva ela aborda o belo? Estética? Social? Política? Filosófica? Quais os perigos que Socrates percebe na arte – especialmente na dramática? Entre o teatro e a música, qual Socrates prefere? Porque?

Outra perspectiva perfeitamente válida é a política. Você concorda com a perspectiva política de Platão? O que você acha da utopia dele? Gostaria de viver nela?

MUDANÇA NO PROGRAMA

Também vamos mudar o programa um pouco. Para a quinta-feira, leiamos o livro VII de A República – assim poderemos incluir uma curta leitura de Aristóteles na terça-feira, dia 8 de Abril, e entrar no discurso Cristão sobre a arte na quinta-feira, dia 10.

PARA QUINTA-FEIRA

Caros Todos,

Desculpem a demora em atualizar a seção. Tive alguns problemas com o provedor.

Para amanhã, sugiro ler o Livro VII de A República por inteiro, pois é bastante interessante. Quem tiver limitações de tempo, entretanto, pode ler do início até o final da discussão sobre Geometria (527d).

Além da Alegoria da Caverna em si, algumas questões a considerar são as opiniões de Sócrates sobre as diferentes disciplinas – assim como a função que ele atribui aos filósofos na formação dos atenienses.

Para ver uma pequena ilustração da caverna como eu a entendo (ou não) clique na imagem abaixo:

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14 comentários em “Platão

  1. Sócrates idealizava a busca pela perfeição: o homem belo e bom. Para tal era imprescindível existirem características específicas na composição dessa sociedade. Pessoas patriotas, corajosas, e que buscassem um equilíbrio entre a força e a moderação. Para tanto a educação dos jovens se basearia em música e ginástica- já que, segundo ele, uma alma boa faz o corpo melhor. Sua alusão de que a vida imita a arte, na passagem “as imitações se transformam em hábito”, pode ser comprovada nas sociedades atuais, pela imitação de sua própria obra por tantos totalitaristas, como Hitler,

  2. (continuando…) que idealizavam uma sociedade de pessoas “perfeitas”. Outro exemplo são os Higienistas do século XVIII, que pretendiam educar as crianças de forma a buscar o cidadão perfeito. Uma pergunta: sócrates fala de não expor os jovens a comportamentos ruins e toda a especie de erros, mas, se eles não forem expostos a isso, quando forem adultos não necessariamente os terão? Sendo assim, como proibir a imitação?

  3. Bem, Sócrates tem o ideal de formar bons cidadãos e para isso propõe uma normatização de alguns costumes. No caso do texto, especificamente, ele fala sobre como os fatos devem ser contados, o que deve ser dito e o que não deve ser dito nos textos e também como devem ser ditos. Isso me lembra a discussão muito comum nos primeiros semestres de história de como a história deve ser escrita, na verdade, a discussão de como a história foi escrita para se favorecer certos interesses. E perpassa bem as discussões que tivemos em sala de aula sobre a construção do mundo e das representações que se faz dele através da linguagem (bem que o Andrei comentou sua obsessão atual pela questão da linguagem, rs), pois se cria o mundo e os seres pensantes que nele estão através de fatos que reforçam determinadas práticas sociais, tanto de conduta a ser seguida quanto a ser tida como anormal.

  4. A perspectiva política de Platão sendo a criação de uma cidade ideal é uma utopia . As censuras presentes no discurso de Socrates enfatizam isso porque tais censuras reduizam as perspectivas de realização dessa republica. Ainda mais as censuras estabelecidas nos dominios artisticos que so dão lugar na cidade à aqueles que criam coisas lindas porque venham do bem e são assim consideradas os unicós dignos.

  5. Uma questão me surgiu e me pareceu uma incoerência de Sócrates: ele admite a mentira dos chefes de Estado para defenderem a pólis de ameaças e não causar furor na população. Mas considera inadimissível a mentira de cidadãos comuns, pois não corresponde ao ideal de virtude pregado por ele.

    Porém enquanto escrevi isso, pensei que talvez ele não seja tão incoerente assim, já que na sociedade da antiguidade grega, os papéis sociais eram bem definidos hierarquicamente, né?

  6. Platão através do diálogo faz de afirmações perguntas e de perguntas grandes afirmações, ele aborda diversos assuntos em uma única frase e consegue construir ensinamentos usando ordens adversas e metáforas, muitas vezes pouco palpáveis e outras deleites para a imaginação, pelo menos para mim, mas isso tudo pode ser fruto da tradução, não sei. Na minha leitura percebi a abordagem de aspectos como a justiça, natureza humana, harmonia, mentira e alguns outros, os dois últimos, especialmente, me chamaram a atenção. A música e a ginástica contribuindo para a harmonia da alma, a relação entre qualidade do ritmo, da harmonia e do caráter. A mentira não aceitável, mesmo com o uso do belo, nesse caso elaborada por alguém diferente do chefe, como já apontado acima em outro comentário.

    Na necessidade de reflexão sobre a (des)função da arte me apeguei bastante ao início do texto, no qual ele coloca trechos literários, palavras que são doces de escutar, como ele mesmo diz, e também que “…quanto mais poéticas menos são devem ser ouvidas por crianças e homens que devem ser livres…” e fala sobre vigilância na leitura de algumas narrações.

  7. ¨ True art is not fanciful and imitative, but simple and ideal. ¨

    Na nossa desconstruão do belo podemos observar um elemento muito interessante que aparece no livro III de Platão. A concepão de que a arte como o Estado é um todo. Dessa concepão de todo juntamente com o amor pela recém-nascida linguagem matemática pode ser entendido como os principios reguladores da própria arte grega em Platão.

  8. No livro VII, Platão, a partir do mito da caverna, retrata a condição de ignorância e alienação em que ele julga viver a maioria das pessoas. No decorrer do livro, apresenta a forma pela qual os indivíduos seriam capazes de sair das trevas e sombras e alcançar a iluminação. Para o filósofo este objetivo seria alcançado por meio da educação.
    É interessante observar a concepção que Platão tem acerca da educação, entendendo-a não como a simples trasmissão de conhecimento, pois se assim fosse o aluno não passaria de um mero receptor, um depósito vazio a ser “preenchido”. Para Platão, educar seria guiar, orientar, haja visto que o indivíduo já detém a faculdade de pensar. E o fim da educação seria o de “fazer ver mais facilmente a idéia do bem”. Neste caminho, algumas ciências foram listadas por eles como as mais importantes para que se tenha êxito neste desafio. entre elas a matemática, a geometria, a astronomia e a dialética. Fica evidente o fascínio do filósofo pela matemática, que a trata como uma das ciências mais puras e mais adequadas para se atingir a “verdade”. Somente através destes conhecimentos poderiamos alcançar a libertação e nos voltarmos das sombras para a luz.

  9. Acho interessante como a aleogoria da caverna trabalha a questão do “descobrimento” da verdade, aquele momento em que o homem é levado para fora da caverna e o sol ofusca seus olhos; me parece uma apologia aos que passaram e não foram reconhecidos, aos que viram a verdade e foram menosprezados – o que acontece quando voltam à caverna. Enuncia ainda mais as características elitistas do pensamento de Platão, e no decorrer do diálogo, essa idéia fica ainda mais fixa a partir do sentido pedagógico que Platão dá a essa dinâmica de conhecimento. Mas essa educação, de todo modo, como já discutimos anteriormente, é muito bem delimitada – a verdade, a verdade sobretudo no filósofo.

  10. A alegoria da caverna descreve a passagem que deve efetuar a alma de um nível de conhecimento a um outro, por meio da educação. Sócrates defina bem isso explicando que a alma em primeiro viva na ignorância (na vida da caverna), atravessa progressivamente diferentes etapas antes de chegar ao conhecimento (saída da caverna). E no fim da sua educação , o filosofo deve tentar por sua vez educar os ignorantes convertê-los na necessidade da verdade (volta na caverna). Pela alegoria da caverna, Platão traz uma reflexão sobre o que cada um acredita saber, em relação as crenças, as valores, as certezas, convicções, a dificuldade de mudar a maneira de ver as coisas. Podemos pensar que ele tenta libertar as pessoas das crenças que lhes foram inculpadas desde muito tempo em todos os domínios que podiam ser explicados pela ciência.

  11. A alegoria da caverna diz muito sobre a nossa própria percepção e aquisição de conhecimento, claro, de uma forma bem platônica, nos lembrando da forma meio “perdida” com que ficamos ao descobrir uma coisa que parecia óbvia, e que, na verdade, não era tão verdade assim. Ao descobrir verdades empíricamente científicas as pessoas já ficam meio atordoadas e saem peladas da banheira gritando “EUREKA”, imagina alguém que descobriu que toda a sua vida não passou de uma ilusão.
    Bom, é um jeito bem didático de se explicar a aquisição de conhecimento, e provavelmente, para a época, um jeito bem contestador, já que a idéia de se argumentar se uma coisa que você está vendo é real ou não não era bem um costume pra época, e pra ser mais realista, hoje em dia ainda o não é, pelo menos para as ciências mais deterministas e experimentais.

  12. Sócrates compara o mundo em que vivemos a uma “caverna subterrânea”em que os homens sao mantidos a grilhoes. Somente a frente de nos uma parede e atrás uma fogueira. Dessa forma , vemos somente as sombras projetadas na parede pelo fogo.
    Sem outro conhecimento , constatamos que essas sombras sejam a “realidade”.
    Os companheiros da caverna assim como todos os objetos que representam o conhecimento nao passam de sombra , e sao a unica “realidade”.
    As correntes a e incapacidade de se virar e olhar para a entrada da caverna nos prendem a esse estado de ignorancia.
    Se pudessemos olhar a princípio a luz direta nos seria dolorosa e perturbadora , mas com o passar do tempo as sombras cessariam e poderiamos perceber a verdadeira forma dos objetos e pessoas . Mesmo assim, devido ao hábito, nos apegariamos às sombras, ainda acreditando que elas fossem verdades, e suas fontes, apenas ilusões. Mas se nos tirassem da caverna para a luz, mais cedo ou tarde chegaríamos à visão clara das coisas e lamentaríamos nossa antiga ignorância.

    Essa analogia de Platão é um ataque aos nosso comodismo e pensamento. Os homens estao habituados a crer que os objetos que nos cercam sao sempre “reais”. E estes são somente cópias imperfeitas e muito menos “reais” de “formas” imutáveis e eternas. Platão define essas formas como as realidades permanentes, ideais e originais a partir das quais são moldadas cópias concretas imperfeitas e corruptíveis.

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